No momento em que lamentamos a perda da matriarca Dona Ritta de Araújo Calderaro, que faleceu aos 88 anos no dia 25 de junho passado, a Coluna faz uma homenagem a toda família que compõe a Rede Calderaro de Comunicação.
“Entre o grande anúncio e a grande reportagem ficávamos com a grande reportagem”. Era assim que Umberto Calderaro Fllho definia a chave de sucesso de A Crítica, desde os primeiros momentos do jornal. Essa filosofia de imparcialidade também se refletia diante dos guichês da fazenda. “O que nos dava liberdade de agredir com a reportagem isenta os poderosos de então que se consideravavam infensos a crítica”.
De uma época em que ainda se podia fazer jornalismo mais para o romantico que para o empresarial. Sem fazer maiores retoques, Calderaro traçava o quadro da imprensa amazonense de então, embotada pelos reflexos do governo ditatorial de Vargas e na qual não cabiam reportagens populares.
“Fizemos uma verdadeira anti-empresa, para os padrões de então”, dizia Calderaro. Um jornal feito no dedo – a expressão vem do fato de que A CRÍTICA era toda composta letra a letra, com o tipógrafo executando um penoso trabalho manual – entrou no mercado para enfrentar os grandes da imprensa. Todos com máquinas automaticas. Era um prelo manual conrtra as primeiras rotativas.
A fundação do jornal deu-se em 19 de abril de 1949, tendo como primeira sede uma sala pequena alugada no centro da cidade, na avenida Eduardo Ribeiro.
Sabe-se, no entanto, que antes disso, por cerca de 2 anos aproximadamente, A Crítica circulou de maneira precária e assistemática, sem sede e sem máquinários próprios, sempre por volta das 11 horas da manhã, a fim de escapar da concorrência dos maiores jornais da época. Por esse motivo, ficou conhecido como Onzeorino, neologismo criado pelo seu primeiro secretário de redação, ex-senador Áureo Mello.
Os primeiros números de A Crítica foram rodados nas impressoras de O Jornal, por apenas 60 dias, pertencente ao magnata da comunicação na época, Henrique Archer Pinto, com quem Calderaro tinha um parentesco de afinidade distante,
Um desentendimento entre Calderaro e um membro da família Archer Pinto interrompeu momentaneamente a trajetória de A Crítica, que já começava a ganhar simpatizantes.
Mais adiante, ainda no começo, Calderaro passou a contar também com o apoio de sua esposa Ritta de Cássia Araújo Calderaro, filha do desembargador André Vidal de Aaújo e de Milburges Bezerra de Araújo. A professora de desenho e assistente social Ritta usava o tempo disponível para desenhar anúncios, manchetes, títulos das matérias veiculadas em A Crítica.
O NOME DO JORNAL
O nome A Crítica surgiu, segundo seu fundador, em contraposição ao jornalismo áulico e literário da época, quando os meios de comunicação tinham como fontes quase que somente os organismos oficiais, dedicando boa parte de seus espaços para manifestações de escritores e poetas. A Crítica veio para incentivar o debate, o questionamento dos atos das autoridades e assumir o papepl de porta-voz da população. Esse, pelo menos era o ideário de Umberto Calderaro Filho, que, por isso mesmo cunhou o slogan que acompanha o jornal até hoje: “DE MÃOS DADAS COMN O POVO’.
Em 20 de janeiro de 1959 atiraram uma bomba em A Crítica que, por pouco, não ceifava a vida de seu fundador. O artefato caiu na mesa de trabalho de Calderaro, que se levantara segundos antes. Foram destruídos no evento os exemplares dos primeiros tempos de jornal, móveis e utensílios.
Ele teve de se mudar provisoriamente de Manaus, junto com sua família, para o Rio de Janeiro, a fim de escapar da sanha de seus perseguidores, Foi ao presidente Juscelino Kubistschek e pediu garantias de vida, voltando para Manaus.
COMBATE À CORRUPÇÃO. NEPOTISMO. ESQUADRÃO DA MORTE. ALTOS SALÁRIOS. FALTA DE LUZ e outros problemas vivenciados pelos amazonenses foram bandeiras de A Crítica.
Amigo pessoal de Umberto Calderaro, Luís Geolás de Moura Carvalho foi eleito Governador do Pará por duas vezes (1949 e 1958) e prefeito de Belém em 1961 a 1964. Em 1960, Moura de Carvalho esteve em Manaus e foi recepcionado pelo amigo de longa data.
RELAÇÃO COM OS GOVERNOS QUASE SEMPRE CONFLITUOSA
A linha independente de A Crítica levou por vezes a sérias brigas com alguns governantes. No princípio o jornal era de oposição, quase panfletário. Depois, com a credibilidade sedimentada, concentrou-se na informação propriamente dita, sem perder a fibra que caracteriza seu fundador. A convivência com os governadores Leopoldo Amorim da Silva Neves(1949), Plínio Ramos Coelho (1957) e Amazonino Mendes, em meio a seu primeiro mandato como governador (1989) foi extremamente difícil. A Crítica sobreviviu a todos eles, porém, Calderaro não transigia quando o interesse público estava em jogo.
No auge da campanha presidencial de 1960, o candidato Jânio Quadros esteve em Manaus e Calderaro preparou editorial elencando vários temas de interesse do Amazonas.
A REDE CALDERARO DE COMUNICAÇÃO hoje é um conglomerado de mais de 20 empresas, e são dirigidos pelos netos de Umberto e Dona Ritta Calderaro, que teve Cristina Calderaro como herdeira de um grande império que em muito ajudou a construir. Vida longa aos novos espadachins: Dissica Calderaro Tomaz, Tatiana Calderaro Tomaz e Umberto Calderaro Neto.
Marcelo Guerra / Jornalista MTB 492/AM – MBA Administração Pública
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