Fortaleza e eu – Colaboradores

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Nasci na cidade de Fortaleza. O que ouvi  dos meus pais:você deve ser forte, procure estudar, trabalhar, ser independente, honesto e vencer na vida. Seja bom filho, irmão e pai.

Estudei mais do que  imaginava, fiz cursos e cursos. Viajei e voltei.  Lia muito e adorava cinemas.  Tive ficha de leitor na Biblioteca Pública do Ceará,  ainda adolescente. Ficava perto do Ibeu, na Solon Pinheiro, onde eu estudava inglês. Cursei  direito e administração, ao mesmo tempo, manhã e noite. Energia demais. Fiz-me jornalista, para começar.   Colunas no Correio do Ceará: Informes Acadêmicos e Administração&Negocios. Remunerado. Dava para o gastos.  Depois, por  anos, neste Diário do Nordeste.

Resolvi não ser mandado  por ninguém, passei a ser dono de mim mesmo- se e’ possível. Aprendi a andar só e esquadrinhei a cidade do mar até o Mondubim. Do Rio Coco’ ate’ a Barra do Ceará. Do asfalto ao chão batido. Não preciso de Waze e nem de guia para me deslocar, me perder e me encontrar em seus espaços, sejam cultos,  igrejas, ruas e ruelas com ou sem pavimento, bodegas, lagoas, quermesses, feiras-livres, ouvir missas na Igreja do Carmo, assistir a comícios nas praças Jose’ de Alencar e do Ferreira.   Frequentar, imagina,  a Academia Cearense de Letras, ainda adolescente, e calado. Ver o corso do carnaval na av. Duque de Caxias. Participei de movimentos estudantis nas escolas de Direito e de Administração, em centros acadêmicos,no Diretório Central dos Estudantes. Na UEE até ‘a UNE. Fiz CPOR e até tenente virei, depois de servir no Maranhão por três meses. Depois, veio a Revolução e eu tive que prestar contas. Anos.

Fui ao Estádio Presidente Vargas, de calças curtas, n vezes, e ate’ bem pouco ia ao Castelão, cuja construção acompanhei. Paixão aquietada?!
Torço Fortaleza, de origem.

Conheci o Hospital Jose’ Frota, ainda como Assistência Municipal. La’ um médico deu pontos na minha face esquerda por conta de arame farpado que não enxerguei. 

Conheci a aragem do mar e os jangadeiros antes que existisse a Beira Mar. Tinhamos uma casinha de praia.Vi que poderia aprender a planejar, a agregar pessoas, produzir planos diretores de desenvolvimento  Urbanos, a mexer com saneamento e a construir; tive a coragem de começar a fazer casas e muitos  edifícios. 

Brinquei em quermesses e na Cidade da Criança. 
Aprendi defesa pessoal com o Inspetor Herondino( se apanhar na rua vai apanhar em casa).
Ajudei e acompanhei o movimento pela área que virou o Pirambu.

Adorava ver cinemas, desde o Rex, na General Sampaio, ate’ o portentoso Sao Luiz, hoje aberto a todos, como teatro, shows e festivais de cinema.  Frequentei os clubes Maguari, Líbano,Iracema, Náutico e Ideal. Casei, tive filhas, netos e até um bisneto. Meus amores. Vi a Aldeota nascer, areia clara, crescer e se misturar com o que iria ser, um pouco depois, o Meireles. Desisti de  continuar a ser professor de Administração de Serviços Urbanos.  Morei- e moro- na Praia de Iracema e vi seus ups e downs. Continua a não ser o que poderia ter sido. Ou será?!

Conheci o Asilo de Parangaba, onde ficavam os quase doidos, os doidinhos ou doidões sem tostão para comprar sequer uma cibalena. Tive pena. Fechou.

Via a antiga Cadeia Pública se transformar em feira de artesanato. Andei de trem da Rede Viação Cearense-RVC pelo interior a dentro. A saída era na praca da Estação, pois dali partiam e chegavam os trens, hoje centro de artes, planejada por um português, cujo nome não sei. 

Vi a Praia do Futuro totalmente virgem e cheia de árvores para fazer lenha que os remotos trens  comiam. Eram terras da família Diogo.Hoje está povoada de grandes barracas.
Andei meio mundo, mas meu lugar é aqui. Ocidente, oriente e  terras de desertos que cresceram por conta do petróleo. 

Quero ser cremado e que minhas cinzas fiquem por aqui. Lamento o nosso transito e a multiplicidade de motos entre carros e coletivos.

Considero o Parque do Rio Coco’, um oásis que precisa ser mais visto, vivido e amado. Fortaleza tem pobreza acentuada e há pouco tempo surgiram as facções. Crimes de muitas naturezas.
Sentei em barracas a margem do Rio Ceará, onde se engalfinha com o mar verde. O museu de Fortaleza, ha’ anos fechado, agora está em reforma.
 
Trabalho no bairro Benfica, antes na Solon Pinheiro, D. Manuel e São Paulo.

Fortaleza completa 299 anos. Não sei se a conta está certa. Parabéns a todos os daqui. Estamos quase chegando a três milhões de pessoas. Mais igualdade, menos  injustiças. Parabéns.

João Soares Neto é escritor

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